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Solteiras e Auto-Seguros - parte 1

O momento de se prender a uma base ou parada é sempre um momento de muita atenção já que significa que você estará a partir daquele momento preso somente pelo seu sistema pessoal de segurança e o seu companheiro irá liberar a sua corda do freio assegurador. Normalmente isso é necessário em duas situações principais: no final de uma via quando será preparado o sistema para rapel; no final de uma cordada em uma via longa quando o guia irá preparar o sistema de segurança para que o seu parceiro escale a cordada com segurança de cima (entraremos mais em detalhes sobre segurança de cima em um artigo futuro). Esse sistema é comumente chamado “auto-seguro” ou “solteira” (dependendo da região do país) e vemos muitas pessoas utilizando diferentes alternativas.

Aqui vamos tentar explorar algumas alternativas, vantagens e desvantagens:

Fitas de nylon

Nylon é o nome comercial para um tipo de fibra feita a partir da poliamida. Fitas de nylon como auto-seguro é talvez a alternativa mais utilizada no Brasil. Utiliza-se um anel fechado de fita de nylon, que pode ter entre 60cm e 120cm, preso à cadeirinha por um nó boca de lobo e um mosquetão D assimétrico com rosca na ponta.

Uma fita de nylon é um equipamento relativamente barato e muito durável e o nó boca de lobo é um nó muito simples de ser feito (talvez isso explique a sua popularidade). Além disso, o nylon é um material muito resistente à abrasão e capaz de deformar-se levemente quando submetido a grandes forças (no caso de uma queda com a carga diretamente na fita).

Uma grande desvantagem é o fato de o seu tamanho ser fixo, o que pode causar desconforto na posição do escalador dependendo da posição da ancoragem na rocha.

Fitas de Dyneema/Spectra

Dyneema e Spectra são nomes comerciais diferentes, produzidas por fabricantes diferentes, para o mesmo tipo de fibra feita a partir do polietileno. Esse material é mais resistente à cargas estáticas que o nylon e, portanto, é possível fabricar uma fita para a escalada com espessura e peso menores que as fitas de nylon mantendo a mesma carga de ruptura. Por esse motivo se popularizou muito no montanhismo por possibilitar uma redução no peso do equipamento.

Entretanto, esse tipo de fibra apresenta um problema: apesar de suportar bem cargas estáticas, perde sua performance em cargas dinâmicas (quedas). Com isso, dependendo se a queda incidir diretamente na fita ela poderá se romper (veja o final do artigo para uma comparação entre nylon e dyneema).

Para tentar minimizar essa falta de elasticidade, a grande maioria dos fabricantes de fitas para a escalada utiliza uma mistura de nylon e Dyneema, aproveitando as propriedades elásticas do nylon e a carga de ruptura mais alta da Dyneema. Para facilitar a identificação esse tipo de fita sempre virá com partes coloridas (nylon tingido de diferentes cores) e partes brancas (o piletileno não pode ser tingido e portanto sempre virá na cor branca).

Daisy Chain

Projetada para ser utilizada em escaladas artificiais, possui vários loops costurados ao longo da fita para possibilitar ajustar o seu tamanho. Por essa característica, se popularizou muito entre os praticantes de escalada de grandes paredes, possibilitando que o escalador ajuste a sua posição nas paradas melhorando o seu conforto. Podem ser feitas de nylon ou dyneema.

A daisy chain, por ter sido um equipamento projetado especificamente para escaladas em artificial, possui uma grande desvantagem: os loops intermediários suportam somente o peso do corpo, apesar de a fita como um todo suportar os 22kn exigidos pelas normas.

Assim, em alguns casos específicos os loops podem se descosturar em pequenas quedas. Além disso, o manual do fabricante recomenda que sejam usados sempre dois mosquetões para evitar que o escalador clipe incorretamente o seu peso somente nas costuras dos loops.

Fonte: ilustração do manual de instruções disponível no site da Black Diamond

Aqui existe um vídeo da fabricante Black Diamond exemplificando em uma daisy chain com loops presos com fita adesiva, ao invës de costuras, o risco de utilizá-la como auto-seguro utilizando somente um mosquetão.

Nó fiel na corda de escalada

Uma maneira muito simples de resolver os dois problemas citados nas alternativas anteriores (cargas dinâmicas e ajuste de tamanho para melhorar o conforto) é utilizar a própria corda de escalada como auto-seguro, utilizando um nó fiel em um mosquetão HMS. Esse nó é facilmente ajustável e suporta cargas de aproximadamente 800kg antes de começar a correr.

Com isso, aproveitamos todos os benefícios de absorção de energia da própria corda dinâmica e utilizamos um nó rápido e fácil de fazer.

Esse nó não poderá ser utilizado no momento de preparar o sistema de rapel, pois será necessário se desencordar para passar a corda pelos pontos de ancoragem. Nesse caso, sempre será necessário utilizar algum outro sistema como auto-seguro.

CUIDADO GERAL: Nunca suba acima do ponto de

ancoragem quando estiver preso pelo auto-seguro!!!

No caso de uma queda direta na fita, poderia ser gerado um fator de queda superior a 1, o que causaria uma força muito alta em todo o sistema. Nesse caso, há uma grande chance de fitas de Dyneema não suportarem e se romperem. Além disso, caso a fita não se rompa, o principal problema é a força gerada na cadeirinha do escalador que poderá causar lesões sérias na coluna e outros órgãos internos.

A fabricante inglesa DMM realizou alguns testes interessantes de quedas em fitas de nylon e dyneema e disponibilizou os dados aqui.

Conclusões:

1) fitas de Dyneema não têm uma boa performance em quedas (forças dinâmicas). Nos testes ou a fita se rompeu ou gerou uma força muito alta, próxima de 22kn. Esse tipo de impacto pode provocar séries lesões de coluna ou outras lesões internas no corpo humano.

2) fitas de Nylon tiveram uma performance muito melhor com forças de impacto muito mais baixas que as medidas nos testes de Dyneema. Isso se deve pela maior elasticidade do material que absorve parte da energia gerada pela queda.

Portanto, a recomendação geral é preferir a utilização de fitas de Nylon como auto-seguro e evitar fitas de Dyneema.

O vídeo abaixo explica todo o procedimento utilizado nos testes:

No próximo artigo sobre solteiras e auto-seguros iremos explorar algumas outras soluções comerciais que foram desenvolvidas por diferentes fabricantes ao longo do tempo.

Conhece alguma outra alternativa de auto-seguro?

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